segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Folhas de Rosa*

Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, no meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo...
E falo-lhes d´amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente...
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m´embriaga.
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que refletia outrora tantos risos,
E agora reflete apenas pranto,
E o calor de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mais fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhastes, aquele dia...
*Poema de Florbela Espanca.
*Escrito em 18/01/1916.

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